2022
Nesta manhã veio voando
uma abelha muito velha.
Lá vem ela! Lá vem ela!
Pousou a abelha em minha janela.
Vagou, olhou-me nos olhos,
parou quando eu disse "olá".
No momento deduzi
que ela queria me escutar.
Sabe o que é, pequeno inseto?
Muita coisa aconteceu
e ao mesmo tempo nada, nada!
Dona Abelha, quem sou eu
p'ra perturbar-lhe na alvorada?
Mas a senhora é bondosa
e continua aí parada.
Neste caso contarei
sobre o terror que estou fadada.
A mente cria muita história.
Enredo fútil, triste, louco!
Dessas histórias vivo tanto
que da vida vivo pouco.
Tudo acontece aqui dentro.
Nada acontece aqui fora.
Dona Abelha tem certeza
de que não vai-se embora?
Dona Abelha tem certeza
de que não vai perder a hora?
Vai-se embora trabalhar,
Dona Abelha! Dê o fora!
Mas a senhora é bondosa
e continua aí parada.
Neste caso contarei
Como são as madrugadas.
Dos ventos mais brandos
nas noites mais calmas
nada aquieta o som interno
dos gritos de minh'alma.
O tempo se vai,
para longe, voando.
Só tu, Dona Abelha,
Permanece me escutando.
Por que não voa?
Se sente bem?
Por que não voa?
O que é que sente?
Poderia ser tu, também,
mero fruto de minha mente?
Fecho os olhos e os esfrego,
abro pouco e devagar.
Felizmente a Dona Abelha
não saiu de seu lugar.
Vai embora, minha amiga!
Sua família lhe espera.
Mal sabia, eu, que a abelha
havia morrido na janela.
Imagem: Pinterest
![](https://static.wixstatic.com/media/608f7c_5f91964ae3134b478fb60047c03e84b4~mv2.jpg/v1/fill/w_564,h_705,al_c,q_85,enc_auto/608f7c_5f91964ae3134b478fb60047c03e84b4~mv2.jpg)
Que incrível esse poema da Abelha na janela! S2