22.11.2022
Poderia escrever algo de valor se estivesse em qualquer lugar que não fosse minha casa. Encontraria mais paz em um cemitério do que aqui dentro, pois os mortos não se queixam e não reclamam. Há flores e árvores no cemitério daqui, ventos que falam mansinho no ouvido, pássaros que brincam no ar e cantam a sinfonia da vida. Em casa há pesar, desânimo, dores, olhos caídos, cenhos franzidos e lábios repuxados. Já não me sinto acolhida no que eu deveria chamar de lar. Estamos doentes e não sei se é conveniente escrever isso aqui, mas o faço! Meu irmão é a centelha de vida que aqui existe. Esperança e ânimo parecem brotar nele todas as manhãs como fonte de água doce e isso me faz feliz! O viver dele recompõe parte de mim e tenho orgulho da pessoa que ele é!
Enquanto a mim, tive a sorte de achar amigos! E eles apareceram tão de repetente quanto um veio de ouro depois de longas e exaustivas procuras. A companhia deles me faz rica num sentido de saúde mental e alegria. Também tive a oportunidade de fortalecer amizades antigas e isso me fez bem!
Sinceramente, estavam surgindo ideias bonitas em minha mente antes de começar a escrever, mas morreram todas assim como meu ânimo. O clima daqui é como fumaça de incêndio e parede chapiscada. Não sei como explicar além disso. Também não há novidade, todos os dias são como o anterior.
Há algo bom nessa angústia. Ela espeta, dói! E aquilo que machuca gera movimento e o movimento gera mudança. Um cavalo não permanece parado ao ser açoitado e um homem que teve sua pele perfurada por um espinho vai fazer de tudo para tirá-lo. Assim, minha mente já começou a buscar soluções e meu corpo a agir visando os planos de minha mente. Me falta mais um cado de perseverança e energia, é verdade. E torço para que não seja necessário mais dor para adquirir a força que me falta.
Não parei para tomar o café da tarde, o que é errado! Comi enquanto escrevia, mas isso deu-me um pouco de ânimo e me sinto bem para contar as novidades.
Não é comum que vejamos algo interessante no nosso dia a dia, mas sempre existirá, ali, coisa ou outra que chame a atenção, basta observar. Por um exemplo: dentre os amigos que fiz, há um que está sempre usando máscara de Covid. O chamarei de "O Mascarado". Não posso dizer que se trata de uma questão de prevenção, a máscara é parte dele como um membro do corpo e nunca, em hipótese alguma, ele revela sua face. A princípio é algo simples, mas é o bastante para criar toda uma atmosfera de mistério dentre o grupo. Teorizamos os motivos de tal sigilo, ideias das mais simples até as mais absurdas e todas dão um drama gostoso ao mistério! Nossos olhos estão sempre à espreita esperando qualquer mínima oportunidade de enxergar o que há por baixo da máscara. Agora este é, basicamente, o maior segredo do ano (pelo menos na minha cabeça funciona assim)!
Meus novos amigos, em sua maioria, têm espírito aventureiro então pude levá-los para conhecer os arredores das casas abandonadas. Confesso que fiquei muito mais feliz do que imaginava, pois não precisava guiá-los o tempo todo, nem apontar caminhos. Eles tomavam o rumo que seus corações mandavam e exploravam os locais por conta própria, as vezes sozinhos, as vezes em duplas ou grupos. E carregavam dentro de si paixão e entusiasmo pelo momento e pelas descobertas. Eu lembro das risadas, dos olhares, das brincadeiras, de seus corpos expressando alegria. Aquilo tudo me encheu de vida! Teve um momento que me sentei sob a Árvore da Proteção para repousar junto a meu namorado. Dali, por dentre as folhas da copa, pude ver meus amigos no campo mais abaixo. Haviam juntado um crânio de cavalo a um grande galho que serviu de corpo para o falecido animal e se moviam como se fossem tribais no meio de um ritual arcaico. Aquele momento, para mim, foi um daqueles raros em que você entende o significado divino da vida! Foi uma cena fantástica! Tinha uma junção perfeita de criatividade com um toque cômico e leveza! Como era leve aquele momento!
Lembro de repousarmos, quase todos, sob a copa desta mesma árvore e então os ouvi contar suas versões do que seria o Paraíso. Ali os vi despir os corpos e então eram apenas alma, a essência de um ser humano como ele deveria ser. Os vi resplandecer e ganhar cores à medida que falavam! Naquele momento eram sonhadores e me permitiram ver seus sonhos. Me sinto honrada toda vez que lembro! É muito bom sonhar em grupo!
Ganhei bolhas nos pés jogando vôlei e isso foi um marco muito importante pois não me lembro de já ter tido alguma bolha no pé e também porque valorizo muito as marcas de machucados ganhos em momentos bons ou decisivos. Era humilhante nunca ter tido uma bolha no pé, agora posso me vangloriar disso! Não basta uma, ganhei três!
Lembro de coisas bonitas que tenho em mente e quero depositá-las no diário, mas precisarei voltar aos campos para refletir sobre a essência destas, de modo a transmiti-las com a maior clareza possível. Por enquanto findo esta página com o fôlego de esperança que me surgiu enquanto relembrava as boas memórias citadas acima.
Imagem: Pinterest
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