21.05.2024
Os poemas falam comigo. Comunicação péssima, por sinal! É muito raro aparecerem, mas quando isso ocorre chegam sussurrando coisas confusas dentro de mim. Falam tudo fora de ordem e se comunicam por palavras, imagens e emoções. As vezes as sinto na região do tórax, as vezes dentro da cabeça. Falam sem parar, de forma embolada e confusa. Eu que pene para decifrar o que dizem! Raramente consigo, mas quando o faço, escrevo tudo no papel. Ultimamente tenho sentido mais dificuldade que o comum ao realizar essa tarefa. Me pergunto se estou insensível, ou confusa quanto a minha pessoa. Talvez eu me cobre muito em relação à escrita. Minha poesia evoluiu a medida do tempo e não consigo prosseguir com um poema se a escolha e ordem das palavras parecer pobre ou feia. Pouco importa!
Tédio fora do comum e apatia em assuntos românticos. Quanto mais fascinada fico pela vida, pela flora, fauna e pelas pessoas, mais fraco se torna o desejo de ter um parceiro para a vida. Quanto mais tédio, quanto mais fascínio, menos carência física e emocional. Na verdade, costumava ser divertido conhecer as fases de um relacionamento, aprender sobre beijos, confiança, toque físico, lealdade e sexo, mas não há novidades a mais, então ficou chato. Descobri que o beijo convencional brasileiro nunca fez sentido para mim e sexo é chato e cansativo. Então não me sobrou nada que me prenda a um relacionamento conjugal. Meu novo fascínio é conhecer pessoas. Tantos estranhos passam por mim no dia a dia, seria entusiasmante saber o que eles pensam, como vivem, quais seus sonhos, suas fraquezas, quais seus problemas e manias. Eu gostaria de estudá-los como se fossem as aranhas que vivem nas minhas plantas.
Sobre a problemática de me faltar uma companhia ao decorrer de minha velhice, pensei nisso e, de fato, desejo ter alguém até lá, mas sinto que a escolha certa virá de minhas experiências e vivências. Preste atenção no que vou confessar! Lá na frente, velha ou não, terei o hábito de me sentar em uma varanda aconchegante toda tarde e a varanda ficará virada para o sol poente de forma a ser banhada pela luz dourada do entardecer. Vou bebericar goles de café quente e me deliciar com o aroma do mesmo e da relva a minha frente. Observarei a rotina dos pássaros, dos animais de pasto e dos vizinhos, se eu tiver vizinhos próximos. Terá um homem sentado ao meu lado e esse homem vai olhar para todos esses fragmentos de vida com os mesmos olhos que eu. E sentirá os aromas do campo e observará a rotina da fauna com os mesmos sentidos que os meus, porque o nosso mundo será exatamente o mesmo, não o mundo exterior, mas o interno! Essa pessoa vai falar a mesma língua que a minha e ficaremos horas teorizando sobre o universo, sobre a ciência e a religião, sobre magia e qualquer assunto que varie do sacro ao pagão. Falaremos blasfêmias como se fossem piadas e riremos das desgraças estúpidas do cotidiano, mas amaremos a deus, ou a natureza, ou a seja lá o que exista na intensidade de pagãos apaixonados, dispostos a dar tudo de si para celebrar mais um dia nesse planeta, pois estaremos convictos de que o paraíso é aqui, ao lado um do outro. Quando eu captar um daqueles momentos que te deixam eufórico, olharei automaticamente para ele desejando que também o tenha visto. Ficarei deliciada ao saber que ele viu e que sentiu o que senti. De nada valerá experimentar a vida se não puder compartilhar com ele, e ele comigo. E eu serei a mulher mais satisfeita por saber que ele sente a vida como eu, e eu como ele. Esse homem respeitará meus momentos de solitude, quem sabe poderá até compreendê-los. Eu respeitarei seus momentos e suas necessidades. Ele falará como um tagarela, mas saberá me ouvir quando for minha vez de tagarelar e eu me sentirei viva todas as vezes que o vir empolgado ao discutir sobre um assunto que o fascina. Ele será espontâneo e sem tabus e apresentará manias peculiares que eu vou me divertir ao observar. Haverá, nele, um balanceamento entre picos de energia e quietude para que possa existir harmonia. Eu tirarei proveito de cada um desses picos.
Esse seria o parceiro ideal para que eu possa compartilhar a vida, mas definitivamente não há como achar alguém assim em tão pouco tempo de vivência, sou jovem e não saio muito de casa. Só vou achá-lo quando começar a experimentar da vida e do mundo.
Por enquanto me divirto observando insetos, aves e pessoas, escrevendo uma coisa ou outra, lendo e testando diferentes meios de fazer renda. As vezes desenho, bordo ou crocheto, outras vezes caminho e interajo com pessoas na rua. Quando dá, perambulo pelos campos sem rumo. Ouço o vento e me empolgo com a chuva. Observo o sorriso dos garotos e procuro manias estranhas em seus comportamentos. Ouço música quando estou eufórica e elétrica e faço posts para contas do instagram. Bebo café e me pergunto se seria moralmente errado observar meus vizinhos para entender a rotina deles. Converso com minha família em nossos cafés da tarde e me divirto deixando a casa impecável quando estou hiper mega animada. Vez ou outra visito minha amiga e fofocamos. Está tudo perfeito! Preciso apenas de uma fonte regular de renda para ajudar meus pais em casa, investir no meu futuro e me presentear com comida cara e bens materiais.
Estou fazendo algo fora do comum que tem me animado. Guilherme e eu estamos de saco cheio das redes sociais e decidimos que seria muito mais divertido nos comunicar por cartas. Não e-mail, mas cartas de verdade! Tenho escrito para ele ao decorrer dos dias e, quando atingir um volume agradável de escritos, lhe mandarei as cartas com presentinhos feitos a mão. Guilherme é minha melhor amizade! No início brigávamos quase todos os dias por imaturidade e opiniões divergentes. Depois aprendemos a lidar um com o outro, nos tornamos maduros e acabamos por perceber que adoramos conversar sobre os mesmos assuntos. Ele tem amadurecido cada vez mais e está conquistando seu lugar na vida adulta. Isso me deixa muito orgulhosa! Uma pena que não posso acompanhar de perto! Moramos longe e ficar a par da vida de alguém a distância não tem o mesmo efeito que fazer parte dela de perto. Eu gostaria de ser uma amiga melhor, mas há atos de amizade e companheirismo que você só pode demonstrar de perto. O que eu posso fazer é mantê-lo informado de tudo através de cartas e presentes. Espero que ele me escreva de volta. Ele prometeu e, se estiver lendo isso, Gui, sinta o peso da responsabilidade de resposta cair sobre suas costas! Não vou escrever sozinha! Vou te importunar até me enviar suas cartas.
Estou feliz e o tempo fresco e nublado aumenta minha felicidade! Sinto que amo as pessoas! Assistir doramas me faz sentir isso.
Preciso criar contato com os jovens da minha rua e com a vizinha do lado pois ela crocheta, borda e costura. Tem uma vizinha que gosta de enigmas e esportes e é a simpatia em pessoa! Ela tem minha faixa etária, é alegre, ri bastante e gosta de assuntos sobrenaturais. Tem inúmeros amigos. Há uma senhora que se senta na calçada com frequência. Ela está sempre com uma menininha que julgo ser sua neta. O portão de sua casa fica sempre aberto, dando direto ao que parece ser a sala de estar. Sandy, minha cadela, já entrou lá para xeretar. Sorte que a senhora não estava em casa pois teria caído morta de susto. Um dia vinha passando essa mesma senhora com sua neta e Sandy estava passeando sem coleira pois é uma lady, ou quase isso. Ela tem a mania de colocar o focinho entre as nádegas das pessoas para chamar atenção, mas apenas faz isso com quem tem contato frequente. Para minha surpresa, Sandy deve ter gostado muito da mulher porque, em um piscar de olhos, estava enfiando o focinho nas profundezas do cu da véia. Esta gritou por sua vida ao receber o que seria o ato mais simpático da vida da Sandy, pelo menos na cabeça canina dela. E eu, refreando o riso como se aquilo dependesse da minha vida, nada tinha a fazer se não lhe informar que aquele era o jeitinho meigo da Sandy dizer oi. Não que essa informação fosse devolver a dignidade da mulher, mas achei que fosse bom saber que tudo não passava de um amigável cumprimento.
Tem um vizinho de minha faixa etária que se mostrou muito interessado nas aranhas daqui de casa e ouviu todas as informações que eu e meu pai lhe contamos sobre. De bônus fez muitas perguntas. Fiquei feliz da vida! A fala dele é boa de ouvir, é fluída e ele pronuncia bem as palavras. Não sei seus gostos nem nada a mais. Não tenho nenhuma informação interessante sobre os outros vizinhos.
Meu café acabou, assim como meu leque de informações. Devo continuar em outro dia chuvoso.
Imagem: Pinterest
![aranha de prata em sua teia com plantas em volta e luz solar](https://static.wixstatic.com/media/608f7c_d75e2289e7ff4a48bb7094727e6533e8~mv2.jpg/v1/fill/w_564,h_1001,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/608f7c_d75e2289e7ff4a48bb7094727e6533e8~mv2.jpg)
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