Era das trevas
(2023)
Era noite confusa, nem tarde nem cedo.
Eram riscos de sangue em lábios mordidos.
Eram dentes cortando a pele dos dedos.
Eram olhos vermelhos e sono perdido.
Coração aflito.
Era caos, era medo.
Era um poema estranho de começo incerto
e de fim tão certo quanto o começo.
Era grito interno, era choro preso.
Era noite confusa, era frio, era breu.
Era alma reclusa, ser vazio.
Era eu!
Nada
(18.04.2023)
Vozes gritam dentro de mim
nessa mente descolorida.
Nada sou neste momento.
Nada tenho: cor ou vida.
A dor suga sangue e fôlego,
desfigura e emudece o senho.
Nada sou, mas por agora
esse nada é tudo que tenho.
Demitam o designer!
(07.06.2024)
O cenário que vejo em minha frente
não tem luz, não tem contraste.
Quão nítido é o desgaste!
Quão baixa a saturação!
Pontos pretos se desbotam,
visão fumê, sonho, ilusão.
Pouco vejo, nada sinto.
Perdão, minto! Sinto-me ausente.
Não pertenço ao ambiente,
me desloco da paisagem.
Se é sonho ou se é miragem
já não tenho mais certeza
nem clareza do real.
Se não durmo, estou desperta.
Se não sonho, é racional.
Matiz, luz, temperatura
pouco importam nesse quadro!
Editaram tudo errado!
Ou então enxergo mal.
Abafaram-se os sons do mundo,
o tempo já não é presente.
Profundo sono desperto.
Disperso corpo dormente.
Tudo é muito bagunçado
entre o real e a ilusão.
Claramente há algo errado!
Torpor mental.
Dissociação.
Humanidade
(20.11.2024)
Meus pecados me fazem humana!
Se engana quem pensa o contrário!
É nesse agir meio arbitrário
de permitir um erro ou outro
que se faz clara a verdade:
meus pecados me ensinam humildade!
Não sou santa, ne anjo,
nem filha da santidade!
Sou humana por natureza
com a certeza da dúvida
e a dúvida da certeza.
Ilesa de ser além
do que me basta ser.
Se erra toda a vida
até que se entende
que apenas aprende
quem aprende a errar.
O erro não se despreza:
senta-se tu e ele à mesa,
dá-lhe de beber, conversa,
escuta-o falar!
Poema sem rumo
(21.11.2024)
A chuva que iniciara
não foi a mesma que se findou.
Aquela que eu era ontem
é diferente da que hoje sou.
Minha vó conta degraus
de escadas no caminho
e eu conto quantas vezes
ela conta a mesma história.
Escuto com atenção
as palavras de minha vó.
Suas vivências, seus ensinos,
guardo todos na memória!
Já fui pirata, detetive,
Já fui tudo quanto quis!
Só não fui caça fantasmas.
Meus fantasmas que me caçam,
sempre escapo por um triz.
Velejei os sete mares
no parque do condomínio.
Os marujos: meus amigos.
Erguíamos nossas espadas
em batalhas por domínio
Os vizinhos, nas janelas,
observando intrigados:
três crianças golpeando o vento
e, pelo vento, apunhalados.
Já fui fada, espiã,
já fui tudo quanto quis.
Já fui cantora, já fui feliz!
Já fui tanta coisa que,
não demora aposento.
Então dedico minha vida
à investigação criminal
ou, pelo menos, tento.
Se nada der, não faz mal!
Esse poema sem rumo
querendo ser de tudo um pouco,
repleto de inícios sem continuidade.
Esse poema, na verdade,
é minha vida!
Culpa do universo
(29.11.2024)
O universo não quer,
Não quer que eu enriqueça!
Tudo é friamente calculado
Para que termine errado
Não importa o que aconteça!
Não é pessimismo, já adianto.
Não é baixa autoestima,
não é nada disso
Que você imagina.
E se der pitaco no que digo
não ligo, não cismo,
só não é pessimismo!
O homem digital
vestido de ignorância
em sua forma mais banal
volta e meia me dá ânsia.
Me dá tique, me dá TOC.
Boto minhas mãos no fogo e cravo:
Não ganharia um só centavo
Botando a cara no TikTok.
O corpo todo arranhado,
aqui e ali um hematoma.
Nos pés: crostas de lama
de quem vive dentro do mato.
Não adianta esperanças vãs
de que um dia, um grande dia,
um mega, hiper, ultra dia
eu seja aceita no OnlyFans.
E seu eu formar, por sorte, um grupo
de pessoas que me admiram,
um clã, fanbase, um bando, um clube,
nada garante nesse mundo
que eu fature no Youtube.
Me formaria em qualquer curso
de renome que rendesse,
no futuro, um bom dinheiro.
Se não fosse o meu mais puro,
profundo, claro, verdadeiro
e legítimo desinteresse.
Só me restam esses poemas
sem métrica ou beleza.
Agradeço a gentileza
de quem apoia e admira
Poesia só traz fama aos mortos!
E eu torno a repetir
que não importa o que aconteça
o universo, em todo o seu sadismo,
ele não quer que eu enriqueça!
Mas não! Não é pessimismo! (; ´_ゝ`)
Nostalgia. (Comentei no lugar errado)