(2021)
Dizem que no fundo do oceano
está escondido o mais belo jardim,
a primeira morada de Adão e Eva,
guardado e cuidado por um Querubim.
Desta forma foi passada a história,
desta forma ela chegou a mim.
Já minha versão, no entanto,
não possui esse encanto.
Sua narração se dá assim:
Era uma vez nas profundezas
inabitáveis do oceano
onde o caos e a insanidade
regiam tal lugar profano.
No âmago desse abismo,
região desconhecida,
ergueram um reino amaldiçoado
e o proclamaram inferno em vida.
Desafortunadas as almas
que vagueiam no escuro
do abismo infindável.
Desafortunadas as mentes
dessas almas de caráter miserável.
Tais mentes perdidas,
de almas confusas!
Tais almas aflitas!
Tal fim deplorável!
Estas são como marinheiros suicidas.
As profundezas como o canto do mar.
Um canto que, dentre tantos sons indistinguíveis,
se torna único e se faz notar.
O marinheiro, em mar aberto,
atendendo à sinfonia mórbida,
se lança ao mar e se faz pedra
afundando em queda súbita.
Queda lenta, interminável.
Nas profundidades a pressão culmina.
No fim a mente estoura, a luz não chega,
a vida se perde, o breu domina.
O mar profundo é como o inferno
e o marinheiro, ele acredita
que está sem forças para o nado,
que é impossível sua subida.
E lá se vai o afogado
com a consciência desfalecida,
renunciando suas conquistas,
tendo sua história interrompida.
Essa lenda, para mim,
é a lenda mais temida.
O marinheiro que abraçou a morte
ao afundar no inferno em vida.
Imagem: por mim
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