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Apenas eu e minhas facetas

Foto do escritor: Iris CapitanoIris Capitano

19.06.2024 - Madrugada


Eu seria uma pessoa tão poderosa se soubesse usar a raiva ao meu favor! Sempre achei que apenas emoções nobres poderiam ser usadas como vantagem na vida de seu portador, mas algo me diz que emoções negativas são tão poderosas quanto. Eu sou um poço de raiva, existe uma quantidade enorme de ira dentro de mim! Ai se eu soubesse canalizar isso em meu benefício! Não faço ideia de como seria feito, mas tenho certeza de que é possível.  

Desejava ardentemente que essas emoções negativas fossem extinguidas de dentro da minha mente e coração, mas começo a pensar que são uma característica natural de meu ser e que me seriam muito benéficas se eu tivesse algum poder sobre elas. 

Eu vivo entre drásticos contrastes de emoções. Em um dia sinto ternura por desconhecidos que cruzam meu caminho nas ruas da vida. N'outro dia sinto desprezo por eles, sentimentos terríveis, quero distância e tenho ansiedade por estar perto. Essas mudanças chegaram a ocorrer 3 vezes em um único dia nessa semana que se passou. Minha cabeça não aguenta essa divergência de humor e eu entro em colapso mental. Mas se eu tivesse domínio sobre esses meus dois lados... seria capaz de manipular minha realidade, de alcançar tudo que desejasse. No entanto sou escrava do meu lado colérico. Ele me domina! Meu cérebro me domina como se fosse um ser a parte de mim, como se fosse o verdadeiro habitante deste corpo enquanto eu sou apenas sua escrava, uma figurante de mim mesma. 

  

Parece existir uma coisa em nós que está na posição de protagonista. Pense bem: o cérebro ordena tudo que fazemos. Nós, no entanto, acreditamos que damos as ordens, pensamos estar no controle enquanto ele obedece, mas se surge uma simples memória que o incomoda, ele tem o poder de ocultar de nós. Nossa pessoa não tem acesso ao trauma em específico, mas o cérebro tem! Assim como outras memórias e informações que ele escolhe sozinho onde guardar e se podemos acessar ou não. Da mesma forma, em momentos de muito estresse ou medo, não escolhemos nossas reações ao meio, nosso comportamento é ditado por ele, o mestre acima de nós e não estou falando de Deus. O cérebro ou a mente, seja lá o que for, parece o habitante principal do corpo enquanto nós obedecemos a suas ordens sobre uma falsa liberdade de pensar e agir. Quem nós somos se tem algo em nosso interior que está no controle? 

  

Meu irmão tem uma teoria de que somos os verdadeiros "nós", inteiramente "nós" e o cérebro/mente é uma ferramenta que possuímos, mas não sabemos usar. A maioria aprende a usar até o ponto de bastar para a sobrevivência, enquanto poucos tem a curiosidade e ousadia de estudá-la, analisá-la até aprender seus truques e sua natureza. Esses são os sábios, como os monges.  

 

Gosto das duas teorias embora a primeira me assuste. Não quero ser um figurante de mim mesma, quero ser inteiramente eu! 

 

Independente disso, sinto que não sei quem sou. Veja bem, dentre as diversas facetas de meu comportamento, os inúmeros estágios de humor, eu realmente não sei minha identidade. Posso ser muitas em um único dia, quem dirá em um mês, quanto menos em uma vida. As tendências de comportamento adquiridas da massa, como as gírias, dificultam mil vezes de saber quem eu sou. Como posso saber se determinado comportamento é natural ou se é baseado nas mídias? Estou agindo de certa forma porque quero agir assim ou porque quero me igualar a um grupo de pessoas? Isso é condizente comigo ou estou replicando? Inferno de redes sociais! A internet podia colapsar, assim voltaríamos todos à vida calma de quem não precisa responder uma mensagem de imediato só porque foi visualizada ou de quem exerce seu ofício apenas no local e horário de ofício, sem precisar continuá-lo em casa através de um aparelho eletrônico ordinário. Mas isso não está totalmente ligado ao assunto sobre identidade, se trata apenas de um desabafo. 

  

Eu quero alguém que escute serenamente minhas angústias e diga que, apesar de estarmos na merda, teremos dias bons e tudo terminará bem ao invés de alguém que me culpe pelas angústias que sinto e escolhe me deserdar por isso. Quero alguém que me ofereceria ouvidos se me visse chorando ao invés de me largar sozinha na multidão depois de me humilhar em público.  

  

Eu quero uma casinha, uma pequena e simples. De preferência no meio do mato. O interior será todo decorado em tons terrosos, com adições verdes e amarelas para parecer que moro dentro da terra e das árvores. Poderei expressar minhas personalidades em voz alta pois terei a mim e as minhas outras “eus”. Elas conhecerão a mim a as outras de mim, então poderei ser eufórica e apaixonada, mas também serei irritada quando assim tiver que ser, só que dessa vez poderei exalar esse meu lado, entrar em contato com ele e conversaremos. Quem sabe a gente se entenda. Poderei expressar na face que não estou bem sem ser reprimida por isso, sem me importar se estou certa ou errada, apenas serei. Serei eu e mais ninguém! Só eu e minhas outras “eus”! Isso me soa como um pedacinho do paraíso. 

  

Sabe o que penso sobre o paraíso? Ele está quebrado em pedacinhos e espalhado aqui na Terra. Encontramos fragmentos dele na nossa passagem terrena. Algumas pessoas não os percebem, outras colecionam. Quando você coleciona fragmentos de paraíso, cria o seu próprio e ele fica de um tamanho adequado para um ser humano. Essa fé criada em cima de um paraíso imaginário, surgida através do medo da morte e da insignificância frente às injustiças, essa fé se torna desnecessária quando se monta seu próprio paraíso através de pecinhas de felicidade e sabedoria acumuladas durante o viver. Esse mundo que estamos constantemente experimentando é o único de que todos, sem exceção, têm absoluta certeza da existência, mais vale um paraíso palpável do que um fantasioso! 


 

Imagem: Pinterest




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Ama escrever, ler, olhar a chuva pela janela, dançar quando está sozinha, fazer da vida mais singela!
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