23.05.2024
Quero escrever! Preciso escrever! Nesta noite tenho uma necessidade ardente de dar forma a palavras aleatórias que nascem dentro de mim, como se eu estivesse loucamente apaixonada e a única forma de acalmar essa loucura seria vendo a pessoa estimada, mas neste caso, a única forma de alcançar calmaria seria escrevendo. Dar forma aos pensamentos e emoções através de textos e poemas é algo viciante! Ler esses textos e perceber o quanto minha escrita evoluiu me faz sentir um misto de orgulho e uma excitação quase sexual, se não for, de fato, uma. E esse é um tema muito interessante pois descobri que é possível sentir excitação sexual por coisas não sexuais. É insano, mas verdade! Sinto isso quando leio um poema que me faça sentido e já senti outras vezes no passado. Não me recordo, exatamente, o que me gerou tal sensação, mas é provável que tenha sido a cor do céu, o formato das nuvens, o vento e o contato com as pessoas na rua, ou até mesmo logomarcas bem boladas e esteticamente agradáveis. Apenas lembro de estar andando em um centro comercial, o dia era bonito, eu estava de bom humor, então percebi vida emanando de algo e senti isso. Ocorreu em diversos dias. Incrível! Nunca me passou pela cabeça que fosse possível!
Não contei, mas suspendi minha terapia e o acompanhamento psiquiátrico. Fazer isso por conta própria não é recomendado e eu não darei desculpas ou motivos para tal decisão. Fiz porque quis e pronto! Já faz uns bons meses. A terapia não fazia mais sentido, não havia novidades e eu me forçava a comparecer contra minha vontade. Era internamente doloroso! As consultas costumavam ser online, por vídeo chamada e, ainda assim, não suportava comparecer. Fiquei entediada e fiz o que sempre faço quando algo não é mais uma novidade, encerrei. É um péssimo hábito que me dificulta em estabelecer rotinas. Nossa, eu tenho MUITOS problemas com rotina! Mas assim foi feito, encerrei! No outro caso, nunca gostei de acompanhamento psiquiátrico e tenho problemas sérios em aceitar que minha saúde mental depende de um mísero comprimido, o que é presunçoso e imaturo de minha parte, mas é como me sinto! Como posso não ter domínio sobre minha própria mente e depender completamente de um comprimido para tal? Que esse remédio tem que exerce mais poder sobre mim do que eu mesma? Tento parar de tomar por conta própria faz tempos, mas sempre acabo tendo sintomas irritadiços e melancólicos, então volto a tomá-los, já que tenho inúmeras receitas comigo deixadas pela minha penúltima psiquiatra. Existem duas possibilidades para esses sintomas: meu corpo, de fato, não produz o que precisa para um bom funcionamento mental sem a ingestão do remédio ou os sintomas são uma manifestação de abstinência. No primeiro caso, estou condenada. No segundo, preciso forçar a parada mesmo com os sintomas presentes para que meu organismo fique completamente limpo. Existe a possibilidade de eu estar falando balelas sem fundamentos, afinal, não sou profissional da área. Lembrei de uma coisa importante! Algumas das vezes em que tentei suspender o medicamento ocorreram durante a fase de TPM, e pasme, minha TPM gera os mesmíssimos sintomas que citei acima. Uma idiotice suspender juntamente durante a TPM! Parei novamente, estou sem medicamentos desde o dia 18 desse mesmo mês. 6 dias sem ingerir Daforim. Estou bem até agora e passarei a me observar. Obviamente que estou saindo e socializando. Desleixei na alimentação nesses últimos dias, vou melhorar nesse aspecto para ter uma chance maior de sobreviver sem o remédio, porém não cogito exercícios físicos. Alongamentos e exercícios caseiros me dão ansiedade. Só me dou bem com corridas no meio do mato e tentativas falhas de subir em árvores. Esse é meu exercício físico.
Tenho sentido um tipo de emoção diferente do habitual: euforia sem motivo aparente. Durante a noite tenho vontade de colocar a cabeça para fora da janela e gritar a plenos pulmões, mas sou tímida e não quero incomodar os vizinhos. Não se trata de algo ruim, pelo contrário, a vontade de gritar vem de um sentimento de euforia e felicidade e mais alguma coisa que não sei o que é. O coração treme um pouco, como se estivesse dançando, então tenho vontade de pular e gritar. A Sandy fica assim quando está muito feliz. Corre em altas velocidades para todos os cantos possíveis de forma desgovernada e parece que não tem freio.
Se eu não achar novidades que me fascinem, posso acabar por cair em um mar de tédio e, consequentemente, ficar melancólica. Não quero que isso ocorra. Acontece que, quando todas as novidades se esgotarem, o que restará de mim? Pensando por esse lado, talvez nunca mais venha a me comprometer com um relacionamento amoroso, eu ficaria entediada em algum momento e o relacionamento não me apeteceria mais. Engraçado que isso não acontece em relação a meus amigos. Ficamos um longo período sem interação e então tudo volta ao normal. Não quero estar fadada a morrer sem um parceiro de vida! Não acho que eu vá se eu tiver amigos, mas ainda assim, seria interessante ter alguém com quem contar em todos os momentos. Estou me emocionando à toa! Mudo o tempo todo e será assim até eu morrer! Relacionamento amoroso nem é meu foco no momento então tanto faz! Recobrei minha consciência.
03.06.2024
Depois do último escrito fiquei dois dias tendo sintomas de extrema irritação, desânimo, sonolência e afins. Tive vontade de tomar o medicamento e dar fim àquela angústia, mas lembrei da teoria da abstinência. Então persisti sem me medicar e no terceiro dia já estava bem novamente. Permaneço bem até hoje o que comprova que há muito tempo não precisava mais do Daforim. Estive presa a ele simplesmente porque meu organismo estava viciado. Se eu continuasse frequentando o psiquiatra, ainda estaria com o remédio e convicta de que não era hora de parar. Possivelmente estaria testando outros medicamentos e passaria a ingerir não só um, mas dois ou três tipos diferentes. Estou muito feliz por ter conseguido me livrar desse fardo! Sempre odiei a sensação de não ser nada sem aquela droga de pílula. Claro que continuarei me analisando ao decorrer do tempo, mas essa liberdade que tanto almejava é meu paraíso momentâneo.
Ainda viciada em pessoas. Converso com o caixa do mercado e com as pessoas que se aproximam de mim quando caminho na ciclovia. Ultimamente eu boto o pé para fora de casa e me surgem pessoas para bater papo ou interagir, mesmo que por um breve instante. Hoje me ocorreu um caso interessante, o caso do “Marcelo Vieira, Imperador da moda”. Vou contar.
Estava caminhando na ciclovia, sentido minha casa. Cumprimentei um moço que acabara de atravessar a rua de bike. Faixa dos 40 anos, talvez? Nenhuma vaidade aparentemente, falta de dentes, os que sobraram eram bem amarelados, cabelo desgrenhado e estava sujo. Passei por ele e logo o vejo chegando ao meu lado proferindo uma frase muito embolada. Lhe disse que não havia entendido um pingo do que falou. Repetiu a frase e só captei um tal de “imperador e imperatriz”. Repeti que nada havia entendido. Esperava que ele fosse um safado de meia idade que tem o costume de dar em cima de garotas novas, como já me ocorreu, mas não detectei nenhuma hostilidade ou possível perigo. Para evitar que me fizesse perguntas sobre minha vida, o enchi de perguntas sobre a vida dele, na maior calma: onde morava, se tinha família, o que estava fazendo, qual a profissão, etc. Foi respondendo e nada me perguntou sobre mim, o que me aliviou. Morava com a mãe, tinha 8 sobrinhos e estava vindo do trabalho, cuidava de cavalos em um rancho ali perto. Suas galochas, pele suja de lama a direção que veio antes de atravessar a rua indicava que falava a verdade sobre a última informação. Então começou a falar sobre um imperador que deu em cima dele. Antes que pudesse me dar conta, estava tagarelando sobre um tal de Marcelo Vieira, e tudo indicava que gostava muito de falar sobre ele. De acordo com meu companheiro de caminhada, Marcelo Vieira, Imperador da moda era um homem travesti ou trans que tinha, nada mais, nada menos, que 7 fucking empresas e um ou dois programas de TV. Era amigo de várias celebridades e a pouco tempo havia dado uma bronca na Pablo Vitar pois a mesma deu em cima dele no Instagram. Dei corda pra ele pois estava me divertindo com a conversa e comecei a notar, em seu modo de falar e na forma como desenvolvia os pensamentos, que poderia ter alguma condição ou transtorno mental. Continuamos a fofoca. Ele falou uma ou outra besteira sexual, nessa hora sua fala embolou de novo de forma que não tive absoluta certeza do que disse, apenas desconfio que tenha falado besteiras, não direcionadas a mim, fazia parte do enredo. Respondi com naturalidade pois é o melhor que se pode fazer nessa situação, demonstrar constrangimento me colocaria em uma posição de fragilidade e isso seria péssimo na hipótese de ele ser um pervertido de meia idade. Marcelo Vieira tinha um programa de TV chamado “Iate Show”. “Procura lá, procura lá: Marcelo Vieira, Imperador da moda Iate Show” foi o que ele me disse. Eu confirmei que faria isso e fiz mais perguntas. Aparentemente famosos participavam desse programa no Iate.
Marcelo Vieira é um homem trans ou travesti que não usa banheiros públicos para não ser importunado por outros homens, se dá muito bem entre as mulheres e se sente confortável com elas, no entanto se sente ameaçado por homens e por isso tem empatia com suas companheiras de trabalho. A pouco tempo ele abriu uma loja enorme de roupas femininas na Dutra(?) que seria o paraíso para suas subordinadas pois lá estavam protegidas do assédio dos homens. “Se elas quiserem, podem até ficar peladas lá, elas podem fazer tudo”, foi o que me disse o moço ao eu lado. Perguntei se era mesmo uma loja de roupas ou um bordel. Ele me deu sua palavra de que se tratava de uma loja de roupas e achou que precisava me explicar o que é um bordel. Lhe perguntei qual a ligação que tinha com esse homem multimilionário: eles eram primos. Na verdade, ele não usou a palavra “primo”, disse que Marcelo era sobrinho da mãe dele. Enfim, o grande homem estava prestes a abrir uma mansão que viraria palco de seu mais novo programa de TV cujo nome não me recordo. Ele me contou sobre uma famosa que visitou o Iate Show e que teve sua bunda filmada durante o programa. Nesse momento o homem do rancho começou a rir e pensei que se tratava de um pervertido que imaginava corpos nus de garotas por nunca ter tido contato com sexo. Então prosseguiu contando que ela era magrinha e quase não tinha bunda, e riu de novo. “Está rindo por lembrar-se da bunda da mulher ou pela falta de bunda?” pensei eu. Deu continuidade: a mesma mulher falou ao Marcelo, em tom de brincadeira, que ele tinha mais bunda do que ela, isso durante o programa, e meu companheiro riu de novo. “Está se deleitando sexualmente pela falta de bunda dela ou pelo excesso de bunda dele? Ou será que não se passa de uma situação cômica na cabeça de meu companheiro”, pensei novamente.
Ri com ele, mas estávamos chegando perto de casa e não queria que soubesse onde moro, então estava prestes a dizer que eu aproveitaria para comprar pão já que passávamos por uma padaria e que ele seguisse o caminho dele. Antes disso acontecer, lhe perguntei seu nome. “Marcelo”, a resposta. Brinquei ao perguntar se, esse tempo todo, não era ele o tal do Marcelo Vieira. Não me respondeu, ficou olhando para baixo hora sério, hora ameaçando a rir. Confessei que estava brincando por conta de os nomes serem os mesmos e desejei uma boa volta para casa, ele me desejou boa caminhada, montou na bike e se foi.
Chegando em casa pesquisei por esse Marcelo Vieira e seu programa de TV, até mesmo por sua loja. Pasme! Não há uma informação se quer sobre o nosso herói. Deduzi algumas teorias:
Marcelo Vieira é um crush reprimido do meu companheiro e esse último não tem coragem de sair do armário. (pouquíssimo provável);
Marcelo Vieira existe e eu não soube procurar na internet (impossível!);
Marcelo Vieira é um alter ego da vida dos sonhos de meu companheiro, Marcelo do Rancho. Ele fantasia dia e noite sobre a vida perfeita e a pessoa que ele gostaria de ser. Cria suas próprias empresas em seu mundo imaginário, seus próprios programas de TV, sua fortuna inacabável, suas célebres amizades e até fantasia sua paixão platônica por travestis através de relatos de assédio vindo das mesmas. Ele não tem coragem de declarar sua identidade de gênero, acha que não será aceito, nem ele mesmo se aceita. Seus companheiros masculinos percebem isso e o importunam. Ele se sente ameaçado por homens e encontra refúgio na companhia de garotas. Teve algum infortúnio sexual ao decorrer de sua vida, assédios ou algo pior. Pode ter sido maltratado ou violentado pelo pai. Hoje mora com a mãe, nenhuma citação se quer ao pai.
Essa última teoria é que mais me convence. Claro que posso estar completamente errada.
Sabe, agora recordo que, ao me contar sua história, olhava sempre para baixo antes de relatar as informações. Isso indica que estava envolvido emocionalmente com seus relatos e que seu lado imaginativo estava mais operante do que o lado racional. Em contrapartida, olhar para cima ou para os lados indicam que você está lembrando dos fatos para transmiti-los, o que não foi feito. Forte indicativo de mentira, mas não exato, não posso tomar uma posição. Quando sorria ao contar sua história, era verdadeiro e precedido de olhares demorados para baixo: forte envolvimento emocional. Ao invés disso, ou juntamente a isso, ele poderia estar confortável com minha presença: pouco contato visual e mais tempo com o olhar baixo indicam conforto na presença de alguém, além de sua postura relaxada e o caminhar solto e leve. Por vezes se aproximava sem que percebesse e não parecia notar ou se importar com o excesso de observações e contato visual que eu lhe dirigia.
Foi um caso muitíssimo interessante e me divirto ao lembrar.
Tenho interagido mais com as pessoas do meu bairro, mas depois desse relato extenso, acho melhor discorrer sobre isso em outro dia.
Imagem: Pinterest
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