01.12.2022
Faz tempo que não visito os Prados do Fauno em meus sonhos noturnos. Tenho sonhado com coisas banais e minha memória das tramas já não funciona tão bem quanto antes. Isso é culpa minha! Não tenho rememorado e nem anotado os sonhos ao acordar. Porém há também uma chance de que essa confusão onírica seja fruto de meu novo medicamento. De qualquer forma sinto falta de passear pelos prados alegres, da coloração crepuscular, da relva dançando leve com os ventos doces! E sinto ainda mais falta de contemplar o correr enérgico do Jovem Fauno! Lembro de seus cabelos encaracolados voando selvagens a medida que ele cruza os campos como uma flecha indomável! E atrás dele os animais silvestres o acompanham velozes, sem perder o fôlego. Ainda não tive a oportunidade de correr ao seu lado, por mais que eu quisesse. O Jovem Fauno não espera, não há convite que soe de seus lábios. Quem deseja seguir ao seu lado que o alcance dentre os campos! Se, por ventura, conseguir seguir seu ritmo, ele aceita sua presença de bom grado e com alegria jovial.
Nunca aconteceu de eu conhecer a morada dele. Sei que habita uma clareira perto daqueles prados, mas, dente tantas, qual? Ele quase nunca vai pra casa, o vejo sempre nos campos e me pergunto o que faz quando não está correndo. Como será que passa o tempo em seu lar? Qual a aparência de sua morada? Quais devem ser os sonhos do Fauno?
Não tenho voado nos sonhos porque estagnei em vida. Quando evoluir de forma significativa no mundo real, tornarei a voar no Mundo Onírico. Sinto falta disso! E sinto muita falta do Jovem Fauno e de seu paraíso! Muito mais do que a Cidade Perdida ou o segredo escondido na casa da bruxa. Tenho medo de não sonhar mais com esses locais e acabar por não desvendar seus mistérios!
Continuo procurando algo nos campos da vida real. Ainda não sei o que é, consequentemente não achei o que procuro. Mas visitei uma clareira bonita que não visitava a um tempo, perto da Pedra do Trono (não gosto desse nome, vou mudá-lo), e me perguntei se o Fauno morava lá. Provável que não. A clareira do Fauno não seria apenas bonita, seria algo que eu nunca havia visto antes, tomada por uma paz incessável! A dança das sombras e luzes seria um espetáculo incomparável que não se vê em outras clareiras e o vento sopraria ainda mais manso e amistoso que o comum. Vez ou outra os ventos rugiriam e os galhos rangeriam para fazer jus à personalidade selvagem e livre do Jovem Fauno! E então as folhas das árvores começariam a farfalhar alto, de pressa e em coro e os céus gritariam em trovões estridentes, os pássaros cantariam excêntricos e o Fauno tocaria uma melodia mística e enérgica em sua flauta. Este seria o convite para a celebração da vida. Possivelmente choveria neste momento e todas as criaturas pulariam e dançariam em desarmonia de passos e sintonia de alma.
05.12.2022
Há algo de errado! Andei pensando sobre minhas ambições e descobri que não me sobrou uma se quer. Também não consigo enxergar um futuro quando tento pensar sobre. Nas raras vezes que me surge um desejo, este não tarda a morrer. Se, por um acaso, começo a trabalhar neste desejo, acontece o efeito contrário ao esperado: quando deveria se fortalecer em minha mente e crescer em forma de sonho, apenas murcha até não fazer mais sentido algum para mim e então morre.
Estou com medo pois se nada desejo, o que sobra da vida? Se não enxergo futuro, como trabalho o presente? Nada faz sentido! Eu tenho medo!
Me sinto sempre sozinha e é amargo. Mesmo quando estou rodeada de pessoas ou ao lado da família, estou só. Eles tentam interagir comigo, porém não vejo mais graça em ouvir vozes e formular respostas. Pronunciar palavras é exaustivo e respirar é irritante! Não tolero companhia e me dói sentir-me só. Não faz sentido! Nada faz!
O futuro é uma neblina densa, o presente é torturante! Este corrói a alma ao lembrar-me que tenho de cumprir com cada segundo do tempo que me foi dado em forma de existência. O passado? É como se nunca tivesse existido. Eu não o sinto. Lembranças são como analisar fotografias de desconhecidos: nada tenho com aquilo, não faço parte.
Viver as vezes é um peso e eu descobri que nada sei deste ato. Sou uma completa ignorante!
Tenho raiva, muita raiva! Do que? Eu não sei exatamente. É confuso e não faz sentido.
Viver me irrita! Pensar em morrer me irrita! Não sei o que quero. Tudo é escuro e embaçado e isso me irrita também e me causa medo. Não faz sentido! Nem mesmo esse texto faz sentido. Acontece que nada faz.
Imagem: Pinterest
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