2021
Meu amado não é mais meu.
Nem mesmo é de um outro alguém.
Creio que dele nunca fui eu.
Creio que sempre serei de ninguém.
Meu amado não pertence a si,
nem à vida que o circunda.
Em terra seu corpo, vazio,
enterra sua alma moribunda.
Seus olhos se fecham a luz do dia.
Seus olhos se abrem ao breu da noite.
Ele crê no que sua mente cria:
Através dos vultos cria, enfim, horrores.
Mas ele só conhece as sombras.
Ele não conhece as formas,
ele não conhece as cores.
Meu amado tem ouvidos
como qualquer ser comum,
porém não ouve o som da vida,
ouve o som de lugar nenhum:
“São como vidros se quebrando,
se quebrando um por um”.
Meu amado é um feiticeiro.
O que proclama acontece.
Ele decreta a desgraça
e, enfim, ela aparece.
É um dom que ele possui
e desse dom se engrandece.
Quem conhece alguém assim
entende bem o que escrevo.
Assim nasce, assim cresce,
assim morre e apodrece.
Tal qual um parvo feiticeiro
fez, para si, um encantamento:
Quem dele muito se aproxima
a vida torna-se lamento.
Mal-amado! Nunca foi meu.
E se tiver, ele, um outrem,
Deus abençoe com clemência
a pobre alma que o tem!
Para mim, digo em verdade:
Há de vir aquele a quem
amarei profundamente
por me amar ainda além.
Para a vida, tenho sonhos.
Muitos planos me convém.
Ah, perdão leitor querido!
Falava eu, mesmo, de alguém?
Imagem: Pinterest
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