29.09.2024
Meus sonhos seguem padrões. Por muitas vezes ocorre a repetição de cenários, personagens e enredo. A essa junção de padrões eu nomeio “Mundo Onírico” ou “Outro Mundo”. Este já foi introduzido no diário, onde abordei sobre “os prados do Fauno, a casa da bruxa, a cidade perdida, as catacumbas e a floresta das sombras”, porém não obtive respostas sobre esses mistérios. Agora pretendo abordar as tendências peculiares que se repetem em meus sonhos e dois novos ambientes que andam aparecendo com frequência.
As aulas de voo
A uns anos atrás notei uma tendência que viria a se repetir e evoluir gradualmente ao decorrer de minha vida onírica. Eu tinha a capacidade de pular muito alto e parar no ar por um momento. Usava isso como artifício para fugir dos perigos, mas a sensação era horrível! Depois que saía do chão, não tinha controle sobre o que iria acontecer e a queda me dava frio na barriga. Eu não gostava! Então passou um tempo e eu comecei a planar bem próximo ao chão. Podia controlar meus movimentos, mas nunca saía do que parecia uns 5 centímetros do solo. Mais um tempo depois e eu ultrapassei os 5 centímetros, podia chegar à altura aproximada de uma casa de um andar. Foi nesse momento que o Mundo Onírico achou que eu deveria começar a ter aulas de voo, pois podia sair do chão com muito esforço, mas era incapaz de controlar meus movimentos além dos 5 centímetros citados. Passei algumas noites de meu sono praticando a habilidade de voar, com alguma dificuldade em desviar de obstáculos. Depois que aprendi a ter autocontrole sobre o voo, fui capacitada a alcançar alturas mais elevadas. A partir daí eu passei a ter domínio sobre os movimentos e sobre a altura que eu desejava alcançar, mas faltava uma lição: eu não podia sair do chão no momento em que desejava. Quando já estava levitando tudo era fácil, mas fazer isso acontecer exigia muito esforço e concentração. Foi quando um menino começou a lecionar para mim, a gente passeava, ia até colinas e campos e nesse meio tempo ele me dizia no que eu deveria pensar para alçar voo, no que eu deveria me concentrar. Eu lembro um pouco o que fazer, mas não sei como explicar. A sensação de voar pelos cenários do Mundo Onírico era inimaginável, algo que só se pode sentir vivendo. Eu lembro do peso da gravidade atuando sobre mim ao sair do chão, da leveza e liberdade de cortar o vento, do jogo de corpo usado para mudar o movimento e a rota, lembro da despreocupação de estar afastada dos problemas e poder ir para onde quisesse. Eu visitava colinas e cachoeiras e um dia voei sobre a Cidade Perdida. Outro dia fui perseguida pela Bruxa do Vale. Tudo era extremamente real!
Foi quando, determinado dia, notei o significado dessa tendência. Em vida eu era alguém que se mantinha empacada, nada novo acontecia, não me permitia evoluir e era dominada pelos meus medos. Porém, assim que comecei a movimentar minha vida, veio o controle sobre o ato de voar em sonho. Ou seja, eu apenas progredia nas lições de voo quando evoluía pessoalmente na vida real. A cada medo que eu enfrentava em vida, uma nova altura era alcançada em sonho. Foi assim que aprendi a voar.
A caverna de enigmas
Escondido entre as árvores corre um rio e próximo a esse rio há uma caverna um tanto peculiar. Ela é dividida em salões/galerias possuindo suas entradas barradas por portões rochosos, com exceção da entrada que leva ao primeiro salão. Cada um desses ambientes possui um enigma único e é necessário resolvê-lo para que seja aberta a passagem que leva à nova galeria. É importante entrar na caverna em grupo, pois alguns enigmas vão exigir mais de uma pessoa para serem solucionados. Ao fim de todas as fases há um último salão onde ficam guardadas recompensas direcionadas aos ganhadores.
Nos primeiros sonhos os enigmas eram inofensivos e eu costumava visitar a caverna com recorrência em busca de diversão. No entanto, da última vez que sonhei com este local, fui informada de uma drástica mudança: o responsável pela organização dos jogos mentais havia cedido seu posto para uma nova organizadora, uma mulher tirânica e incrivelmente inteligente! Consequentemente houve mudanças nos enigmas, ficaram perigosos, ganharam tempo para serem resolvidos e algumas fases colocavam a vida dos jogadores em risco, ou você decifrava o quebra cabeça ou morria. Aquela mulher cativou minha admiração! Porém, apesar do respeito que eu lhe direcionava, era improvável que eu viesse a retornar àquela caverna. Minha vida importava mais do que os prazeres que aqueles enigmas me proporcionavam e eu não me arriscaria por eles. Desde esse último sonho, ainda não retornei à Caverna de Enigmas.
Não pensei sobre a simbologia desse sonho e não pude chegar a uma interpretação do mesmo.
A ponte sobre a montanha de lava
Existe uma ponte desgraçada sobre uma montanha que me causa arrepios. No cume dessa montanha há uma cratera tomada por lava em seu interior, como um vulcão, mas não estando em estado de erupção. Existe uma ponte que liga uma borda a outra da montanha e ela é a única passagem para interligar duas cidades distintas. Os automóveis a utilizam para fazer a passagem, mas há um problema: a ponte é fina, frágil e pode cair a qualquer momento. Além desse risco, há uma energia mórbida no ambiente que faz com que os motoristas percam o controle sobre a direção e lancem seus carros ao abismo. Esses fatos ocorrem de forma esporádica e aleatória. Toda vez que há o desabamento da passagem, a mesma surge magicamente tempos depois.
Nesse sonho sempre calha de eu precisar pegar uma van com o intuito de ir para casa, mas o motorista, sem avisar, resolve mudar a rota e prosseguir para a cidade após a montanha. Sobe toda ela e é parado por um congestionamento de uma única fileira de automóveis ocasionado pelo fato de que a travessia, por ser arriscada, deve ser feita por um carro de cada vez. Essa pausa na trajetória é o momento decisivo em que eu preciso pensar se permaneço na van e enfrento a ponte ou se desço e retorno todo o caminho a pé. Nesse caso eu ficaria à mercê da sorte, pois na base da montanha não passam transportes que seguem o caminho de casa, precisaria pedir um Uber e nunca é certo de que eu tenha dinheiro disponível para tal, nem mesmo de que o motorista aceitaria a corrida, já que não é comum isso ocorrer na região da montanha de lava, ninguém gosta daquele lugar. Uma vez atravessada a ponte com vida, é improvável que retorne, os automóveis que vão não costumam voltar.
Também não cheguei a uma conclusão sobre o significado deste sonho.
Retorno ao colegial
Há um sonho específico que ocorre por um motivo do qual já tenho a ciência.
Estou no último ano do ensino médio, mas há algo errado: eu já havia concluído a escolaridade, então o que raios fazia ali na sala de aula? Angústia por ter que passar novamente por aquele desafio quando achei que nunca mais retornaria àquele lugar. O motivo de meu retorno se dá pelo fato de que o documento comprovando minha formação não estava finalizado e eu precisava correr atrás disso, apesar de toda burocracia envolvida. No entanto, até que eu consiga o documento era necessário cursar o terceiro ano novamente. Sensação de estar perdendo tempo, de ficar para trás, perdida.
Esse sonho apenas ocorre quando acabo estagnando em vida, quando fico ociosa e, por isso, tenho o sentimento de que todos os meus amigos estão evoluindo de alguma forma, alcançando suas conquistas enquanto eu fico para trás.
Se esse sonho se repetir certamente estou estagnada, em um momento melancólico e depressivo.
Mas algo mudou! A última vez que sonhei com o colegial, o enredo se fez diferente, houve uma evolução que eu nunca esperaria. Retratarei abaixo:
Mais uma vez no ensino médio (e significado do sonho)
Ocorreu que eu estava, novamente, em sala de aula, ensino médio, mas não sentia angústia ou atraso. Dessa vez eu estava lá por vontade própria, sabia que já havia me formado, mas tive saudades do ambiente e decidi voltar. Nos outros sonhos eu tinha dificuldades para aprender, neste eu me sentia tão ousada que era capaz de contestar a professora e o método de ensino. Percebi o quão superficial e tendenciosas eram as informações passadas pela professora e desisti da tarefa proposta. No lugar de redigir respostas programadas que não tinham ligação alguma com meu raciocínio e entendimento da matéria me concentrei em socializar. Tive dificuldades em me juntar às meninas, mas obtive sucesso com os garotos. Me apaixonei por um professor com ótimos conhecimentos históricos e o hobbie de fotografar, mas mantive a ideia afastada da mente pois tinha a impressão de que eu era uma adolescente e seria errado me envolver com um adulto. Minha idade não mudou, acontece que por estar em sala de aula havia me esquecido de que era, também, uma adulta. Após esse ocorrido precisei sair da sala para ir ao banheiro, era noite e ao fechar a porta fui tomada por solidão. Fora da sala tudo era escuro e silencioso, não um silêncio bom, mas assustador. Precisava descer muitos lances de escada que eram precedidos por corredores escuros e vazios cheios de portas fechadas (que davam para salas de aula). O ambiente era como se fosse assombrado e as escadas se confundiam, não sabia qual estava descendo e qual estava subindo. Então o sonho acabou.
Tenho algumas ideias simbólicas sobre os elementos e acontecimentos. Tenho ganhado paixão por descobrir novos assuntos e curiosidades, estou aprendendo a aprender e isso me leva ao ambiente da escola. Não tenho alcançado grandes conquistas na vida, mas aprender novas informações me dão prazer suficiente para me sentir bem com meu estilo de vida atual. Porém, no sonho, o método de ensino é massivo, tendencioso e superficial e eu o deixo de lado. Isso reflete o fato de que nunca estou satisfeita, preciso de mais! Não basta aprender algo novo, tenho que saber mais! Reflete, também, minha autonomia sobre meus pensamentos e ideologias. à medida que evoluo mentalmente, à medida que conheço minha natureza, ganho autoridade para defender minha visão de mundo e seguir o que eu considero lógico ou, por falta de palavra, o que eu considero “certo”. Dessa forma não estou presa a palavras de autoridade só porque são bem utilizadas e manipuladas, ao contrário me sinto livre para questionar certas imposições e agir unicamente de acordo com minha vontade.
A vontade de socialização em sonho reflete a mesma vontade em vida. Muitas ideias acontecem constantemente em minha cabeça e sinto a necessidade de ter pessoas em minha volta para debater essas ideias. Sinto falta de pessoas fora de meu ciclo familiar e, principalmente, de pessoas com minha faixa etária. O momento do sonho em que tenho dificuldades em socializar com garotas apenas reflete a realidade onde me sinto mais confortável na presença de garotos.
A curta paixão pelo professor historiador significa duas coisas. Primeiro o desejo de firmar aliança romântica com um homem de intelecto elevado, que aprecie os mesmos assuntos que eu e me ensine curiosidades que eu não saiba. Também um homem repleto de paixões e ambições, isso é simbolizado pelo hobbie da fotografia. Em segundo lugar, meu afastamento desse homem se deve ao fato de que, em vida, não me vejo capacitada para um relacionamento romântico por me achar imatura. Meus gostos não são fundamentados no que é considerado habitual para a fase adulta de um ser humano, me sinto infantil perto de pessoas da minha idade.
O ambiente escuro, confuso, silencioso e sombrio fora da sala de aula pode refletir solidão por não estar tendo êxito em fazer amizades, por não ter alguém com quem eu possa bater papo e dividir ideias com frequência. Porém não tenho certeza sobre essa conclusão.
Imagem: Pinterest
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